sábado, 3 de outubro de 2009

Sobre livros e leituras

Andei refeletindo sobre como a literatura entrou em minha vida. Drummond em "Procura da Poesia" fala de certa "chave" que precisamos para penetrar no reino das palavras. Creio que recebi essa chave das mãos de meu pai. Sempre o vi lendo, e escrevendo. Lembro-me que nos escrevia muitas cartas quando morava distante. Lembro de escrever para ele, guardo comigo uma cartinha que escrevi bem menina. Hoje sei que herdei dele o amor pelas cartas. Assim fui penetrando no reino das palavras, guiada pelas mãos humanas e amorosas de meu pai. Depois vieram os primeiros livros "Alice no fundo do espelho", "Os músicos de Bremen" e "A pequena vendedora de fósforos". Brincava com boneca de papel que minha irmã fazia-nos, e elas moravam nesses livros. A literatura, com seu poder de vida e morte tem me acompanhado desde sempre, são marcas indeléveis em mim. Gosto de viver entre seres como: Clarissa, os Buendia, Orlando, Miguilim, Nininha, Raquel, Alfredo e tantos outros. Digo que sempre em minhas aulas que e literatura é um compêndio de vida. Entristeço-me quando não consigo partilhá-la com todos que desejo. Como professora faço disso minha profissão de fé, porém nem todos que encontramos por esse mundão de meu Deus conseguem acordar seus ouvidos, e ouvir estrelas. Ando pensando muito nisso. Há que se ter força e muito amor. Como disse Castro Alves que seja bendito o que semeia livros. Livros a mão cheia


Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.
(Livros:Caetano Veloso)



"Eu sozinho menino entre mangueiras,
lia a história de Robinson Crusoé,comprida história que não acaba mais.
(...)
(Infância:Drummond)

"Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio..."
(O Silêncio: Mario Quintana)


"Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim"
(Descobrimento do Brasil:Mário de Andrade)


"Vê se tem no almanaque,essa menina,
como é que termina um grande amor"
(Almanaque:Chico Buarque)


"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia."
(Poética:Vinícius de Moraes)


"Caço a palavra caço-me na palavra ato-me"

(Entrelinha:Max Martins)



"Escrever é uma salvação.
Escrever é procurar entender.
Escrever é abençoar uma vida que não foi abençoada."
(Clarice Lispector)

domingo, 6 de setembro de 2009

FELIZ DESANIVERSÁRIO, EDWARD!!!!!


Sempre o chamei assim - Edward - por causa do filme. Ele não tem mãos de tesoura, mas tem um coração limpo e lindo como o de Edward do filme. Quem o conhece entenderá do que falo. Foi amizade a primeira vista. Em meio a um ambiente tão carregado ele fez toda a diferença em minha passagem por aquele lugar. Pode ser que nem leia esse texto, mas preciso me retratar em público por haver esquecido seu dia especial. Como ando no país das maravilhas não posso deixar de recorrer a Alice para amenizar minha falta. Sabia, sei e saberei que é de 05, mas não atentei que o dia havia chegado, e ele passou por mim, e não lembrei. Mas de posse da frase de Alice, esse texto e esse dia será sempre o dia que ele ou alguém quiser comemorá-lo. Apesar de não nos vermos com frequência faço valer a filosofia bruniana que sempre me diz: Existem pessoas tão especiais, que não há nada que nos separe delas, pois estão tão grudadas em nossos corações e em nossas vidas que não há, tempo nem distância que as roubem de nós. Elas são e serão sempre nossas. Você é assim para mim. Perdão e Feliz desaniversário. Amo você.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando entrar Setembro....


Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez...



Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar...

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer...

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender...
(Beto Guedes e Ronaldo Bestos)

Gosto sempre de cantar essa canção quando entra setembro. Gosto muito de ter nascido em Janeiro, mas não me importo de nascer novamente em Setembro.É o mês de minha irmã Selma que parece muito comigo, deve ser por isso que o sinto um pouco meu também. Hoje li um texto muito interessante sobre "Deixar pra depois". Coisas do tipo louça na pia, visitar um amigo, começar a fazer dieta, ir ao médico, corrigir um tcc, ler um texto, dar banho em Biel, e tantas outras coisas. Tem para todos os gostos, das mais miudinhas até as de grandes proporções. Isso chama-se "procrastinar", ou seja, deixar para depois o que você pode fazer agora. Provavelmente já se depararam com situações desse tipo, o texto revela que "não se trata de algo cultural, mas de conduta intrínseca ao ser humano". Legal me encontrar com este texto, pois estou em pleno processo de revisão de sonhos, metas e planos. Parodiando JK que sonhou 50 anos em 5. Meu desejo é 10 anos em 1. Alguns acharam falta de modéstia minha. Será? Sei que não. Navegar é preciso, já disse Pessoa. A verdade é que deixar para depois parece bem interessante. Afinal, quem nunca deixou uma loucinha a sua espera na pia, que jogue a primeira pedra. O problema é quando depois da xícara, vem uma colher, e depois um prato, e mais um prato, e depois uma panela, e a grande questão existencial...Por que não resolvi isso logo, enquanto ela era só uma xicarazinha? E ainda acham que 10 anos em 1 é falta de modéstia. Que nada, é o preço dos momentos de procrastinação, agora é ir a luta. Navegar é preciso, e há muitos mares além do rio de minha aldeia.
Segue o texto.


Amanhã eu faço


Adiar tarefas, planos e sonhos é muito mais comum do que se pensa. Mas pode ser muito mais custoso também. Quer saber por quê? Então não deixe para depois e leia esta reportagem agora!
(Texto Rafael Tonon)

Faz uns 40 minutos que eu liguei o computador e abri um novo documento no Word na tentativa de começar a escrever este texto. Mas, antes de sentar aqui, na minha mesa, enfrentar a temida página em branco e começar a digitar estas letras, fui à cozinha preparar um café para ficar mais concentrado. Aproveitei para roubar uma bolacha do pote de vidro de cima da pia e puxei um assunto qualquer com a Cris, a moça que trabalha em casa. Na volta para o meu quarto, já com a xícara de café na mão, passei pela sala e espiei as manchetes do jornal que estava em cima da mesa. Não hesitei: puxei a cadeira e fiquei ali, lendo as notícias do dia. Quando voltei ao computador, abri logo meu correio eletrônico, dei um “enviar e receber” nos meus e-mails e acabei me distraindo ao responder às mensagens que chegaram. Depois que eu terminei, fui lembrar do arquivo à espera do meu texto... “Chega de protelar”, pensei. “É hora de trabalhar.”


Aposto que você, quando pegou a revista para ler, também deixou algumas tarefas para segundo plano: lavar a louça acumulada na pia (sempre ela), dar um telefonema, guardar no armário a roupa passada (ou colocar para lavar a roupa suja)... Enfim, algo deve ter ficado para mais tarde – ou para amanhã, dependendo da intensidade da sua falta de vontade de realizar determinadas coisas. Toda hora, temos que decidir o que fazer. E, para cada coisa que fazemos, há uma relação de coisas não feitas. E isso é bem comum, principalmente nos dias atuais, em que as tarefas parecem se multiplicar nas nossas agendas. Tão comum, aliás, que existe até um termo criado para explicar esse comportamento demasiado humano: procrastinação, que, do latim, significa “postergar, atrasar, demorar, adiar, delongar”.


A psicologia moderna já descobriu que 80% das pessoas procrastinam com certa frequência (se computarmos as que procrastinam de vez em quando, o número certamente sobe para 99,9%). O que nos leva a concluir que o nível de popularidade dessa tendência comportamental está mais em alta que a de muitos políticos por aí. Isso porque a procrastinação está presente em todas as áreas da nossa vida, do trabalho às questões pessoais. Procrastinamos a dieta, a arrumação dos armários, o check-up médico, o envio daquela cotação a um cliente, a entrega da declaração do Imposto de Renda. (Esse último item, aliás, vale um parêntese: este ano, a Receita Federal deu dois meses para receber as declarações dos contribuintes. A dez dias do prazo final, nem metade dos brasileiros que precisam declarar seus bens tinha enviado o documento ao governo. Sim, nós deixamos mesmo as coisas para a última hora.)

Estamos nessa: Ou seja, postergar nossos afazeres é bem mais normal do que poderíamos supor. Quem garante é o psicólogo Joseph Ferrari, da Universidade De Paul, do estado americano de Illinois, e um especialista no assunto. Ele estudou esse comportamento em países tão distintos como Austrália, Estados Unidos e Venezuela para comprovar que não se trata de algo cultural, mas de conduta intrínseca ao ser humano. “É um comportamento que é considerado tão natural na nossa sociedade que a maioria de nós começa o dia procrastinando, ao apertar aquele botão do despertador que permite que fiquemos na cama por mais cinco minutinhos”, diz. “Procrastinamos o tempo todo sem nem mesmo perceber que o fazemos.”


Em pequena escala, empurrar com a barriga pode ser plausível. Afinal, há mais coisas a serem feitas do que qualquer um poderia dar conta em um único dia. Lembrar-se disso já é uma boa forma de ver a procrastinação com bons olhos, sem nos culparmos por não conseguirmos resolver todas as tarefas que a vida nos impõe. Não há mal nenhum em deixar para amanhã a renovação da carteira de motorista, o banho do cachorro ou a ida à costureira para pegar as roupas que ficaram prontas. O problema é quando se preterem muitas das tarefas. Ou então quando se adiam algumas delas por tempo demais.


O publicitário Sérgio Katz só se deu conta de que precisava parar de postergar os seus compromissos quando isso passou a lhe causar uma série de prejuízos – inclusive financeiros. Num curto intervalo de tempo, ele perdeu voos e a revisão gratuita do carro, pagou a academia de ginástica por meses sem nem ir sequer uma única vez e adiou incontáveis consultas e exames médicos. “Mas, de todas, a penalidade mais significativa era a tensão gerada e a energia que eu desperdiçava ao conviver permanentemente com uma preocupação sem resolvê-la de fato”, diz. Quem procrastina sempre tem a ilusão de que adiar o problema é uma forma de solucioná- lo por enquanto. É como se o escondesse debaixo do tapete para, na próxima faxina, lidar novamente com ele. Mas a questão é que os problemas não deixam de existir na mente de quem os adia. E, o que é pior, alguns deles tomam proporções maiores com o passar do tempo. Se você deixar para cortar a grama no mês que vem, pode ter um esforço maior do que teria se a aparasse hoje. Esta é a percepção que o procrastinador não consegue enxergar: deixar para depois é quase sempre mais custoso.


O adiamento de algumas tarefas acaba virando uma bola de neve. Sem conseguir controlar o próprio tempo e as próprias ações, a pessoa percebe que os dias passam sem que ela tenha conseguido lidar de fato com as situações, causando uma angústia enorme. Sérgio diz que sempre foi de deixar as coisas para depois, como estudar de última hora nas vésperas das provas, quando ainda era um aluno do Ensino Médio. Mas, com a chegada da vida adulta e o acúmulo de responsabilidades que ela trouxe, ele tem que aprender a se refrear a cada dia. “Hoje, cada vez mais, concordo com uma música da Legião Urbana que fala que ‘disciplina é liberdade’”, conta.


A tal prioridade: Mas, se a procrastinação pode causar tantos danos, por quê, afinal, nós deixamos para amanhã o que devemos ou podemos fazer hoje? Segundo Ferrari, temos a tendência de postergar tudo o que parece ser tedioso, demanda muito trabalho, não é para hoje. Ou o que não nos dê prazer imediato. A procrastinação é um embate entre o tempo psicológico, estabelecido pelos nossos desejos, e o tempo social, que é o marcado pelo do tique-taque constante do relógio. E ela pode estar relacionada a diferentes razões. Uma é a falta de autocontrole, que faz com que as pessoas acabem adiando atividades para as quais deveriam dar prioridade, justamente por agir de forma impulsiva e perder o senso crítico e racional da situação.


São pessoas que dizem gostar de trabalhar sob pressão ou resolver as coisas no limite do tempo. E afirmam ter um desempenho melhor dessa forma. Está certo que, enquanto o jogo está valendo, é possível fazer um gol até os 45 minutos do segundo tempo. Mas a chance de vencer uma partida com um gol de última hora é muito mais uma questão de sorte do que de bom desempenho. Nesse minuto final tão decisivo para o placar, é possível perder o passe, ter a bola roubada, errar o chute. Aí não há mais tempo hábil para reverter o jogo. “Essas pessoas nem sempre gostam de trabalhar assim, mas por ter dificuldade de estimar o próprio tempo e, por isso, deixar as coisas para a última hora, têm que entregar tudo sob pressão e fingem gostar disso”, diz Ferrari. Na maioria das vezes, elas não conseguem calcular racionalmente o período necessário para a realização de uma tarefa, deixando-a, então, para os momentos finais.


No ambiente de trabalho, é comum agirmos pautados pelas prioridades. Ainda mais hoje, em que tudo parece ser ainda mais urgente. “O senso de urgência teve sua referência alterada. Tudo é muito rápido, tudo é para ontem, tudo tem que ser agora. Do contrário, podemos perder clientes, dinheiro, posição ou até status”, diz o consultor de recursos humanos Marcos Nascimento. Mas essa mudança no parâmetro de urgência afetou todos nós de forma negativa. Tanto que não podemos conviver com a ideia de deixar para amanhã a resposta a um email que não é tão importante assim. Na ânsia de fazer tudo e mostrar para o chefe que dão conta de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, as pessoas acabam postergando as tarefas que deveriam ser fundamentais. “A tendência que temos em glamourizar o estresse influencia muito nossas decisões. Daí, como temos muitas coisas consideradas urgentes, é bem provável que coisas cruciais, realmente importantes, fiquem negligenciadas”, afirma.


Ou seja, esse novo senso de urgência está fazendo com que nos tornemos mais procrastinadores ao adotarmos a ideia de que tudo é impreterível. Não é: há coisas mais urgentes do que outras. E estabelecer essa hierarquia de prioridades, apesar de difícil, é primordial para que as tarefas importantes sejam feitas com a dedicação que elas exigem. Estudos indicam que, quanto mais detalhada e objetiva for uma tarefa, mais chances temos de realizá-la. Se, ao contrário, percebemos uma atividade como distante do aqui e agora, tendemos a deixá-la para ser resolvida em um futuro vago, para quando sobrar um tempo – se é que vai sobrar. Por isso, é mais fácil procrastinarmos uma intenção (como começar a estudar italiano) do que uma tarefa (entregar um orçamento). Criar prazos e termos concretos é uma forma de nos impulsionarmos a pôr a mão no batente e seguir em frente – seja no que for. Se os editores desta revista não me dessem um prazo, dificilmente eu estaria contando o que eu apurei nesta reportagem para você neste momento. Provavelmente, ia continuar a me distrair com o jornal ou até com outros afazeres acumulados. Porque os prazos nos ajudam a vislumbrar o que tem que ser feito. E fazer!



Tomar decisões: Mas nem todo mundo consegue ter essa visão prática da vida. Tenho uma amiga que vive uma grande dificuldade nesse sentido. Não que ela não saiba o que é preciso fazer. Ela sabe – e faz muitas delas, principalmente no trabalho, onde todos nós costumamos ser mais responsáveis. Mas muitas vezes ela procrastina por não conseguir tomar uma decisão acertada das coisas. Desde que eu conheço a Carla (como ela pediu para chamá-la aqui), ela sempre foi assim: atrasada para todos os encontros e compromissos, ela tem um verdadeiro guarda-roupa no carro justamente por nunca conseguir ir para casa se trocar. Em aniversários e comemorações, ela não compra o presente de última hora: compra no outro dia, quando o aniversário já passou. Há duas semanas, a vi online no MSN e perguntei se ela permitia que eu contasse a história dela aqui, já que não conhecia uma pessoa mais procrastinadora. Ela gostou da ideia, mas precisaríamos conversar outra hora porque ela tinha que pagar uma conta pela internet ainda naquele dia. Detalhe: eram 23h40 da noite. “Sou enrolada mesmo,. Fico adiando e quando vejo passou da hora. Se eu sei que tenho 15 minutos para fazer alguma coisa, eu uso os 15 minutos cheios e ainda aproveito mais uns dez minutos que usaria para outra coisa”, admite.


Não pense que a Carla se vangloria por ser assim, não. Se pudesse, ela seria bem mais organizada e decidida. “Quando consigo me organizar e antecipar as coisas, sinto uma satisfação muito grande. Mas quase nunca consigo”, diz. E essa impossibilidade não está ligada somente aos afazeres e compromissos, mas à vida pessoal. Em um relacionamento há cerca de oito anos, ela já não se sente tão envolvida, mas não consegue dar um ponto final à relação. “Nos últimos dois anos, o problema só se agravou. Eu continuo adiando, adiando e adiando. Mas eu simplesmente não enxergo o dia em que essa decisão terá que ser tomada. Fico buscando caminhos, saídas, soluções. Tudo para evitar cada vez mais algo que é inevitável”, conta.


Carla faz parte de um grupo de pessoas que procrastinam por não conseguir tomar decisões porque não decidir, na cabeça delas, as absolve das responsabilidades que viriam com tais decisões. E, para não sofrer as consequências, preferem ficar estacionadas. A maioria de nós também é assim: temos a necessidade imperiosa de evitar ou desprazer a qualquer custo. Preferimos, muitas vezes, a agonia da espera, em lugar de fazer de uma vez o que precisamos, principalmente se for para nos causar qualquer tipo de sofrimento. Não conseguimos ter o distanciamento necessário para estabelecer uma relação entre esforços e resultados e perceber que o sofrimento, muitas vezes, vem em decorrência de uma mudança mais positiva. E que causaria muito mais prazer para nós mesmos.


Sem medo de arriscar: Segundo Ferrari, essa questão está ligada a nossa baixa autoestima e nossa insegurança. E, por causa delas, acabamos protelando por evitar o medo de não termos o sucesso esperado em algumas tarefas. “As pessoas com essas características são muito preocupadas com o que os outros pensam delas. Dessa forma, preferem que pensem que ela é displicente e tem problemas em se esforçar para agir do que percebam que, no fundo, elas não têm habilidade para isso”, explica. Quem se lembra da história de Joe Gould sabe bem o que isso significa. Gould era um boêmio culto que vivia como um mendigo pelas ruas de Nova York entre as décadas de 1940 e 50 sem dinheiro no bolso e com uma ideia fixa na cabeça: escrever uma obra monumental que ele tinha intitulado de História Oral do Nosso Tempo. O livro seria o maior já escrito no mundo e reuniria ensaios e conversas ouvidas por ele em suas andanças pela metrópole americana.


Gould tinha certeza de que a obra faria dele um grande escritor e historiador dos tempos modernos, um nome para ser lembrado pela posteridade. Sua vida foi contada pelo repórter Joseph Mitchell, um dos maiores nomes do jornalismo literário, em dois perfis publicados na revista New Yorker – e depois reimpressos no livro O Segredo de Joe Gould. Sem querer ser um estraga- prazeres, revelando o segredo de Gould aqui, é imperativo: a História Oral não existia, era uma mentira forjada por Gould. Ele nunca chegou a escrever um rascunho do livro, apesar de propagar em conversas a grande obra-prima em que estava trabalhando. “A História Oral era seu salva-vidas, o único meio de se manter à tona”, escreveu Mitchell sobre seu personagem. “Se ele a tivesse escrito, provavelmente não haveria de ser o grande livro que andara apregoando para cima e para baixo”, acredita seu biógrafo.


Por achar que o livro propriamente dito fosse ser inferior à ideia que ele tinha (e fazia os outros terem), Gould recuou e preferiu viver por trás da máscara de um grande escritor sem nunca tê-lo sido. “É normal as pessoas se sentirem paralisadas quando algo parece ser maior do que elas. Acabam procrastinando porque exigem tanto de si próprias numa tarefa que acabam com medo de enfrentá-la”, afirma o psicoterapeuta e filósofo Ari Rehfeld.


O perfeccionismo exacerbado tem a capacidade de nos fazer desistir ou postergar por um tempo ilimitado nossos afazeres, desejos e intenções. “Dê-se a chance de realizar algo bom e não necessariamente ótimo. Experimente começar a fazer para só depois avaliar. Permitir começar já é um grande passo”, aconselha Rehfeld. Claro que é preciso ter consciência das limitações e habilidades para o que se está disposto, mas se vencermos o que nos paralisa e nos desviarmos das distrações que nós mesmos colocamos todo dia em nossa vida, já teremos meio caminho andado para enfrentar qualquer situação. Nem que seja, como no meu caso ou no de Gould, uma temida página em branco.


Xô, procrastinação:

CRIE PRAZOS:Eles são importantes para nos organizarmos mentalmente e termos claro que não podemos enrolar para sempre para fazer as coisas e cumprir os compromissos.


DÊ-SE RECOMPENSAS:Permita ficar meia hora batendo papo para algumas horas seguidas trabalhadas ou prometa-se um presente quando estiver na metade do projeto. Isso ajuda a se esforçar mais.


CONCENTRE-SE: A forma mais fácil de procrastinar é se distraindo. Dê atenção às tarefas. E evite telefones, e-mails e tentações da internet.


FAÇA LISTAS:Coloque tudo o que você tem ou deseja fazer no papel. Mas seja sincero mesmo: elimine as tarefas que você não planeja realizar nunca, mas vai acumulando.


NÃO MISTURE Faça listas diferentes para prioridades do trabalho e dos afazeres domésticos, por exemplo. Senão as urgências do trabalho vão sempre ficar em primeiro lugar.


ABRA O JOGO: Se você acha que não vai dar conta de uma tarefa, seja honesto: fale das suas dificuldades. Mas, se possível, tente fazê-la. Você pode se surpreender.
(Fonte:Revista Vida Simples/Setembro)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

*Acorda pelo amor de Euuuuuuu!!!!!!!

Depois de um longo verão..."Eu voltei..." Sempre recorrendo ao Rei. Há muito não escrevo, não por falta de palavras, mas andei com medo delas. Mas hoje vejo que fiz bem em manter o silêncio.Certamente não faria bem aos que lessem, já que eu não era calma, acho que foi bom esperar a tempestade passar.E passou. Essa postagem é especial, porque marca um momento muito especial em minha vida. Momento de realização e de paz. Andei a espera de um milagre -e ele aconteceu- demorei um pouco a entender a forma como aconteceu, mas aconteceu e hoje posso dizer com toda certeza: "EU CREIO EM MILAGRES". Estou verdadeiramente feliz, como nunca ousei ser. Andei em busca de saber o verdadeiro significado da palavra - TEMPERANÇA- e hoje, depois de aceitar o convite de Drummond e penetrar surdamente no reino das palavras, não só descobri seu significado, como pude sentir sua ação calma em minha vida. Agora sei que mais que uma palavra, ela é sossego -colo de mãe ou de Deus-. A cor do texto é homenagem a Frida Kahlo, e ao meu despertar. No momento de grande confusão na alma, assisti ao filme "Frida" indicado por meu irmão.Conhecia pouco sobre sua vida e obra. Encantei-me com a mulher e artista que foi Frida Kahlo.Suas telas revelam força e sensibilidade. Em momento de grandes tristezas e decepções, Frida coloriu sua dor. Suas obras apesar de visualmente agressivas carregam a suavidade e a sensibilidade de sua alma feminina.Um pouco de Frida Kahlo:


Biografia:
Filha do fotógrafo judeu-alemão Guillermo Kahlo e de Matilde Calderón e Gonzalez, uma mestiça mexicana. Em 1913, com seis anos, Frida contrai poliomielite, sendo esta a primeira de uma série de doenças, acidentes, lesões e operações que sofre ao longo de sua vida. A poliomielite deixa uma lesão no seu pé direito e, graças a isso, ganha o apelido Frida pata de palo (ou seja, Frida perna de pau). A partir disso ela começou a usar calças e depois, longas e exóticas saias, que vieram a ser uma de suas marcas pessoais. Ao contrário de muitos artistas, Kahlo não começou a pintar cedo. Embora o seu pai tivesse a pintura como um passatempo, Frida não estava particularmente interessada na arte como uma carreira. Entre 1922 e 1925 frequenta a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México e assiste a aulas de desenho e modelagem. Em 1925, aos 18 anos aprende a técnica da gravura com Fernando Fernandez. Porém sofreu um grave acidente. Um ônibus no qual viajava chocou-se com um trem, acidente que fez a artista ter de usar vários coletes ortopédicos de materiais diferentes, chegando inclusive a pintar alguns deles (por exemplo o colete de gesso na tela intitulada "A Coluna Partida"). Por causa desta última tragédia fez várias cirurgias e ficou muito tempo acamada. Durante a sua longa convalescência começou a pintar com uma caixa de tintas que pertenciam ao seu pai, e com um cavalete adaptado à cama. Em 1928 quando Frida Kahlo entra no Partido comunista mexicano, ela conhece o muralista Diego Rivera, com quem se casa no ano seguinte. Sob a influência da obra do marido, adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples num estilo propositadamente reconhecido como ingênuo. Procurou na sua arte afirmar a identidade nacional mexicana, por isso adotava com muita freqüencia temas do folclore e da arte popular do México. Entre 1930 e 1933 passa a maior parte do tempo em Nova Iorque e Detroit com Rivera. Entre 1937 e 1939 Leon Trotski vive em sua casa de Coyoacan. Em 1938 André Breton qualifica sua obra de surrealista em um ensaio que escreve para a exposição de Kahlo na galeria Julien Levy de Nova Iorque. Não obstante, ela mesma declara mais tarde: "pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade". Em 1939 expõe em Paris na galeria Renón et Colle. A partir de 1943 dá aulas na escola La Esmeralda, no D.F. (México). Em 1953 a Galeria de Arte Contemporânea desta mesma cidade organiza uma importante exposição em sua honra. Alguns de seus primeiros trabalhos incluem o "Auto-retrato em um vestido de veludo" (1926), "retrato de Miguel N. Lira" (1927), "retrato de Alicia Galant" (1927) e "retrato de minha irmã Christina" (1928).
(Fonte:Wikipédia)
Algumas obras:

Eu ando pelo mundo






Prestando a atenção em cores que eu não sei o nome



Cores de Almodóvar

Cores de Frida Kahlo

Cores



Passeio pelo escuro

Eu presto muita atenção

No que meu irmão ouve

É como uma segunda pele

Um calo

Uma casca

Uma cápsula protetora

Ah, eu quero chegar antes

Pra sinalizar o estar de cada coisa


Filtrar seus graus...

Essa postagem homenageia também meu irmão. Gostaria de escrever sobre ele, mas percebi que ele é indizível. Seria um texto muito complexo, pós-moderno, como ele é. Quero dizer somente um alguinho (diria Guimarães Rosa), onde ainda consigo textualizar, ou onde a linguagem pode alcançar. Meu irmão é engraçado, Manuel Bandeira se o conhecesse, diria: - Jack você parece uma lagarta listada-, sei que nem todos entenderão a frase, mas Bandeira e ele entenderão, e Tabitinha -se ler- certamente entenderá. Afinal, ela também parece uma "lagarta listada". Ele se amarra em despropósitos, mas que fique claro:como os do menino que carregava água na peneira. Gosta de coisas velhas:livros, discos, rádios e miudezas em geral. Seu quarto é quase um brechó. Adora jogo de botão, faz canções de amor e dorme tarde. Toca guitarra, ama Beatles, e ouve velhas canções. Hoje moramos na mesma aldeia, bebemos vinho, ouvimos canções do passado, lembramos nossa infância feliz e brigamos quando faço tolice.Gosto de sua companhia silênciosa, e seu espirito de Miguilim, creio em seu Deus de folha, de vento, de mar, de nuvem, pois é o meu também. Isso é um pedacinho de Jack para vocês. Tenham um lindo final de agosto, que enfim, decidiu acabar.Que Setembro venha com muita alegria, beleza e cor. Bem, eu creio que certamente virá, pois aprendi com Frida a pintar as adversidades com cores vivas, e enfim, pude encontrar-me com a Alegria Fundamental que Tabitinha tanto falara. Em tudo dai graça, ou como diria Nininha "Deixa Deixa".
" O que a gente quer é ser feliz...A paz do indivíduo é a paz do mundo"
*Apud, A.P.S.

sábado, 20 de junho de 2009

Caía a tarde...

Desde menina a imagem de Carlito me encanta...E hoje, um bêbado me lembrou sua figura. Ele não trajava luto, mas percebi que Carlito, ainda vive, naquele que consegue -ainda que nem perceba- fazer dos infortúnios da vida, motivo de alegria. Bravo ao vagabundo mais romântico da sétima arte.


Carlito em poesia...


Era preciso que um poeta brasileiro,não dos maiores,
porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,

(...)
Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,

vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.

(...)
Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti
como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins.

Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.
(...)

E já não sentimos a noite,e a morte nos evita, e diminuímos
como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos
ao país secreto onde dormem os meninos.
Já não é o escritório e mil fichas,
nem a garagem, a universidade, o alarme,
é realmente a rua abolida, lojas repletas,
e vamos contigo arrebentar vidraças,
e vamos jogar o guarda no chão,
e na pessoa humana vamos redescobrir
aquele lugar - cuidado! - que atrai os pontapés: sentenças
de uma justiça não oficial.


Cheio de sugestões alimentícias, matas a fome
dos que não foram chamados à ceia celeste
ou industrial. Há ossos, há pudins
de gelatina e cereja e chocolate e nuvens
nas dobras do teu casaco. Estão guardados
para uma criança ou um cão. Pois bem conheces
a importância da comida, o gosto da carne,
o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata,
e sabes a arte sutil de transformar em macarrão
o humilde cordão de teus sapatos.

Uma cega te ama.
Os olhos abrem-se.
Não, não te ama.
Um rico, em álcool,é teu amigo e lúcido repele tua riqueza.
A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,anjos desleais, cofres redondos, arquejos
poéticos acadêmicos; convenções do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricase fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado
(...)

ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
caminham numa estrada de pó e de esperança.
(Canto ao homem do povo:Drummod)

sábado, 13 de junho de 2009

Há canções e há momentos...


Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.
Não queria te ver assim

Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.

Às vezes parecia que era só improvisar

E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.
Eu sei - é tudo sem sentido.

Quero ter alguém com quem conversar,

Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.

Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que segui

E com a minha própria lei.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.
(Andrea Doria;Letra: Renato Russo Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá; Album: Dois)

C'è gente che ha avuto mille cose, tutto il bene tutto
il male del mondo
Io ho avuto solo te, io non ti perderò, non ti lascerò
Per cercare nuove avventure
C'è gente che ama mille cose, e si perde per le strade del mondo
Io che amo solo te, io mi fermerò e ti regalerò
Quel che resta della mia gioventù
( "Io Che Amo Solo Te " Composição: Sérgio Endrigo)

(Howard Schatz )

Uma letra
Um abismo
Um sem fim
Onde estiveste antes de estares em mim?
Há naufrágios em meu mar
Barcos ébrios,
Velas ao vento
O mar além de mim
És tu, em névoas
Estranha de ti
Viajo
E na busca de teus passos me perco...
...e só te encontro em mim...
("Estranho"uma voz recorrente)

(Antonio Canova)
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tin
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
("Eros e Psique"Obra poética Fernando Pessoa)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Meu menino marron".

Só quem tem ouvidos de ouvir estrelas para amar, proteger, e entender essas criaturinhas tão lindas. Ele chegou na cegonha de minha gata Rita Lee -a primeira- linda, cara de mãe, companheira e muito feminina.Quando partiu para o céu dos gatinhos deixou um vazio enorme em nossa casa e coração, que foi preenchido por ele -meu pequeno grande amor, Gabriel-. Teimoso, independente, cara de menino. Nunca foi de brincadeiras, mesmo na infância, já tinha ar sério. Aos dezesseis anos é amante dos livros, e de boa música (em volume baixo), não gosta de ventos artificiais, adora passeios matinais e não pensa duas vezes antes de entrar em uma briga. Sua companhia espaçosa, seu "ron ron" e seu olhar azul enchem de alegria, música e cor minha vida, minha casa, e meus dias. Miauloveyou, Biel.

É só de ninar e desejar que a luz do nosso amor
Matéria prima dessa canção fique a brilhar
E é pra você e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração
Meu pequeno amor
E de você me lembrar
Toda vez que a vida mandar olhar pro céu
Estrela da manhã
Meu pequeno grande amor que é você
Gabriel
Pra poder ser livre como a gente quis
Quero te ver feliz
(Beto Guedes/Album: Amor de Índio)

Mais um dia desses
Eu vou fugir de casa
E não volto, e não volto

Vou bater as asas,
Só vou levar comigo
O retrato do meu gato

Companheiro dessa minha melancolia, oh...

E você me pede
Pra ter paciência
E juízo, e juízo

Mas o que eu gosto
É de andar na beira
Do abismo, abismo

Arriscando minha vida por um pouco de emoção

Eu e meu gato,
Ele na cama,
Eu no telhado,
Ele sem as botas e eu sem grana
(Rita Lee)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Quem nunca sonhou com Pasárgada?

"Vou me embora pra Pasárgada"

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um rocesso seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito
Quando de noite me der Vontade de me matar-
Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
(Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90)

"Minha Pasárgada"
Quem nunca sonhou com um paraíso perdido como o do poeta, onde nos despimos das desventuras para vivermos as aventuras? Manuel Bandeira foi mestre em reconhecer a beleza das coisas simples, sua poesia reside em detalhes tão pequenos, que a olhares menos atentos não são perceptíveis. Homem vestido em menino cantou a vida em poesia. Nem mesmo o peso da tuberculose conseguiu manchar sua poética. Com bom humor esperou a morte -não sentado- ao contrário, preferiu seguir a prescrição médica e tocar um tango argentino . Suas linhas revelam uma existência embebida em terna poesia. Batizando a Semana de 22, deixou um legado de modernidade para a literatura brasileira, e assim eternizou-se como nossa "Estrela da vida inteira". E como ele, quem nunca sonhou com uma Pasárgada? Shangrilá, País das Maravilhas, Ilhas encantadas? A literatura é terra habitada por espaços suspensos. Crianças ou não todos nós já nos pegamos visitando esses lugares, ou desejando que um pó do pirlim pim pim ou o caroço do menino Alfredo nos levasse para longe da vida sem tempo das grandes cidades. Hoje quero falar de minha Pasárgada. Poderia ser a Bahia, ou as Minas Gerais, Lisboa, França, Grécia...ou qualquer outro lugar sonhado. No entanto minha Pasárgada fica logo ali, alguns talvez, sintam-se decepcionados por minha escolha, mas os perdoarei, pois eles não sabem o que dizem. A simplicidade de Bandeira entenderia meu encanto. Lá "Sou amiga do rei" , lá "a existência é uma aventura de tal modo 'inquietante' ". Vigia com suas ruas estreitas, mal iluminadas, e muitas vezes maltratadas. Vigia das conversas ao pé de São Pedro, protetor dos homens que se aventuram no mar. Vigia dos passeios de bicicleta na madrugada. Vigia das grandes águas e das chuvas misteriosas. Vigia das esquinas musicais. Vigia dos papos intermináveis regados a vinho. Da filosofia ao pé da igreja de pedra...Vigia dos grandes amigos. Em Vigia a vida sem tempo perde seu sentido, e alcança ares de paraíso perdido. Aquele já sonhado pelo poeta. Não importa onde fica sua Pasárgada, o importante é aventurar-se no sonho. Ave a poesia de Manuel e suas bandeiras!! Ave nosso maior poeta menor!!!Viva la vida!!(Fonte: flickr.com/photos/murilodeirane/2652104983/ )


sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Eu gosto de Adriana Calcanhoto.. e você tem que gostar também".

Contrariando Pessoa te recordo. Desde sua viagem, muito já se passou em nosso planeta...Sinto tua falta: tua gargalhada, teu humor mal humorado, teu amor desconcertado. Mas a ausência drummondiana ensinou-me a viver sem tua presença física. Este momento é para você, seja lá em que planeta te encontres: regando teu baobá, cuidando de tua rosa, de teu vulcão e rindo de mim. "Porque há em nós, por mais que consigamos/ Ser nós mesmos a sós sem nostalgia, / Um desejo de termos companhia -/O amigo como esse que a falar amamos".
Estrelas
Para mim
Para mim
Estrelas
São para mim
Estrelas para mim
Estrelas
Estrelas
Para quê?
Para quê?
Para quê?
Estrelas para mim
Só para mim
Para mim
Para mim
Para mim
E a treva entre as estrelas
Só para mim
(Arnaldo Antunes/ Sérgio Brito)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Poeta, meu poeta camarada...


Perdoa essa postagem improvisada, mas é só pra dizer "que a vida não gosta de esperar...a vida é pra valer...a vida é pra levar...". Vinícius, simplesmente, Vinícius para vocês. Como um presente de poesia, apesar de triste, uma das "Ausências" mais lindas que conheci. Ao lado, claro, da "Ausência" sem falta de Drummond. Beijos com Amor.

Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
(Fonte: MORAES.Vinícius.Poesia Completa. Nova Aguilar)

domingo, 10 de maio de 2009

A hora e vez de Clarice Lispector.

Quem se atreve a definir esta mulher? Enigmática, para Antônio Callado. Um mistério, para Carlos Drummond de Andrade. Insolúvel, para o jornalista Paulo Francis. Ela não fazia literatura, mas bruxaria, disse Otto Lara Resende.
Em maio de 1976, o jornalista José Castello, colaborador de O Globo, recebe a missão de entrevistar Clarice Lispector. Corre boato de que ela não quer mais saber de entrevistas, mas Castello consegue o encontro. Dialogam:
J.C. - Por que você escreve?
C.L. - Vou lhe responder com outra pergunta: - Por que você bebe água?
J.C. - Por que bebo água? Porque tenho sede.
C.L. - Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva.
Investigada por pesquisadores apaixonados no mundo todo, Clarice é uma das mais cultuadas escritoras brasileiras. Para muitos, das mais importantes do século 20, no mundo.
Clarice nasceu na aldeia Tchetchelnik, Ucrânia, que de tão pequena nem figura no mapa, em 10 de dezembro de 1920, quando os pais Pedro e Marieta, junto das filhas Elisa e Tânia, estavam emigrando para o Brasil. Pararam naquele lugar apenas para Clarice nascer. Com dois meses de vida desembarcava com a família em Maceió, onde viveu por três ou quatro anos. Mudam depois para o Recife. Em 1929, aos nove anos, perdeu a mãe.
Guardo de Pernambuco até o sotaque. Quem vive ou viveu no Norte tem uma fortuna de ser brasileiro muito especial.
A menina já escrevia suas historietas, sempre recusadas pelo Diário de Pernambuco, que mantinha uma página infantil, porque elas não tinham enredo e fatos - apenas sensações. Adolescente, segue com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro. Termina o secundário. Dá aulas de português para contornar a crise financeira da família. Entra na Faculdade Nacional de Direito em 1939. No ano seguinte perde o pai. Trabalha como redatora no jornal A noite, onde publica contos. Em 1943, casa com o diplomata Maury Gurgel Valente.
Entre muitas leituras, lia Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Dostoievski "embora não o aprendesse em toda a sua grandeza" e descobriu por acaso Katherine Mansfield à qual foi equiparada posteriormente.
Perto do coração selvagem, o primeiro romance, escrito aos 19 anos é publicado apenas em 1944. A jovem revelação desnorteia a crítica. Há os que buscam influências, invocam certo temperamento feminino. Outros não a entendem.
Não sei o que quero e, quando descobrir, não preciso mais. Acho que quero entender. Quando escrevo, vou descobrindo, aprendendo. É um exercício de aprendizagem da vida.
Viveu em vários países, acompanhando o marido. Nápoles, Berna, Washington se revezam com passagens pelo Brasil. A vida de mulher de diplomata não lhe agradava. De Paris, em janeiro de 1947, escreve às irmãs:
Com a vida assim parece que sou "outra pessoa" em Paris. É uma embriaguez que não tem nada de agradável. Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma.
No exterior lhe nascem os dois filhos, Pedro e Paulo. Mãe, Clarice divide-se entre as crianças e a literatura, escrevendo com a máquina apoiada nas pernas enquanto cuida de seus pequenos.
Separada do marido em 1959, volta ao Rio de Janeiro com os filhos. Mais um período de dificuldades afetivas e financeiras apesar de já ser escritora famosa com obras publicadas no exterior. Nesta época publica contos encomendados por Simeão Leal na revista Senhor. Em toda a década de 1960, colabora em vários jornais e revistas para sobreviver, faz traduções. Em 1969, já era autora de obras importantes como O lustre (romance, 1946); Laços de família (contos, 1960); A maçã no escuro (romance, 1961); A paixão segundo G.H. (romance, 1964); Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (romance, 1969). Incomodava-se com sua mitificação: Muito elogio é como botar água demais na flor. Ela apodrece.
Clarice morreu de câncer em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos. Meses antes concedeu célebre entrevista a Júlio Lerner, da TV Cultura. Ela acabava de terminar A hora da estrela. Escrever era vital para a misteriosa Clarice. Na última entrevista confessava: "Quando não escrevo, estou morta".
Em 1975, convidada a participar do Congresso Mundial de Bruxaria na Colômbia, limitou-se à leitura do conto O ovo e a galinha, um conto que não compreendia muito bem, declarou. Na década de 1990, o escritor Otta Lara Resende advertiu José Castello, que escrevia biografia de Clarice: "Você deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas de bruxaria".
(Fonte: Clarice Lispector. Ânsia e Perplexidade)
Em “Morte e Vida Severina”, João Cabral termina com a seguinte frase “é difícil defender só com palavras a vida”. Parto dessa sentença para falar um pouco de Clarice Lispector, e em especial, da composição do universo feminino em sua obra. Mulher de personalidade forte e intrigante, seu ar de mistério envolve-nos e nos conduz a um passeio dentro de nós mesmas. A publicação de sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem, em 1944, dividiu a opinião da crítica, rendendo a escritora amores e desamores. O que talvez não pudesse ser diferente, já que sua palavra afaga e ofende, costumo dizer que suas obras só nos apresentam a crise, o que ocorreu antes ou depois dela –diria Pessoa- “Sinta quem lê!”. Talvez os leitores românticos acostumados com o falso acolhimento da vida, achem-na crua demais. Mas Clarice não faz mais do que transpor a vida em palavras, ou seja, defendê-la, e como disse João Cabral, “é difícil”. A angústia vivida diante do papel em branco, foi um dos grandes dramas vividos pela escritora "Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. E se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria: como é que se escreve? Por que, realmente, como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como é que se começa? e que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranquilo?". A luta travada com a linguagem fazem de sua obra um emaranhado de palavras cortantes, onde passeiam grandes mulheres . São Anas, Lauras, Carlas, meninas, mães, irmãs, amigas. Considero, Clarice Lispector, a presença feminina mais viva e forte da Literatura. Ler Clarice é ler um pouco de nossa história como mulher, o realismo com que compõe suas personagens nos coloca de diante de um espelho.Personagens, leitoras e autora confudem-se no desfolhar do universo feminino. Mulheres comuns que andam nas ruas, trabalham, lutam, amam, sofrem, riem, que num processo epifânico encontram-se com seus mais íntimos desejos. Ouvi de uma aluna, que se deparou com a obra de Clarice pela primeira vez a seguinte frase "Ela é linda, mas tive medo". Isso nos põe diante do poder de vida e morte, de bem e mal, que sua obra desperta naquele que se aventura em suas linhas. Para Simone de Beavoir "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher", tomo a ousada liberdade feminina para acrescentar que através das obras de Clarice aprendemos a nos tornar mulher. Uma das grandes mulheres clariceanas é "Laura" do conto "A imitação da Rosa", mulher metódica, sem muitos atrativos "Seu rosto tinha uma graça doméstica, os cabelos eram presos com grampos atrás das orelhas grandes e pálidas. Os olhos marrons, os cabelos marrons, a pele morena e suave, tudo dava a seu rosto já não muito moço um ar modesto de mulher. Por acaso alguém veria, naquela mínima ponta de surpresa que havia no fundo de seus olhos, alguém veria nesse mínimo ponto ofendido a falta dos filhos que ela nunca tivera? ". Não sabemos ao certo o que acontecera a esta mulher, sabemos apenas pelo narrador que "agora que ela estava de novo "bem" " . Parece ter saído de uma clínica, mas não há uma informação clara sobre isso. Seu momento de epifania ocorre quando Laura se depara com a beleza de umas rosas que trouxera da feira por insistência do vendedor, neste momento, ela passa a sentir-se incomodada com a beleza daquelas rosas. A partir disso, tudo aquilo que Laura procurava esquecer, volta, porém não sabemos nada sobre esse "tudo". A dor da existência é o que move esta narrativa, que sensibiliza pela fragilidade da personagem. A leitura vale por tudo e para tudo. Clarice está em todas nós, e aqui aproveito para homenagear grandes mulheres que fazem parte do universo que a autora bebeu para compor suas personagens - a vida - São elas: Tabita, Simone, Sarah, Suely, Lirian, Elaine, Marilene, Sofia, Saty, Selma, Lily, Veca, Juruema, Soraia, Vasti. Cada uma com sua porção clarice. Literatura é vida que pulsa através da palavra. Clarice é palavra que jorra vida. E por essas e outras que creio que a Literatura é grande aliada no caminho daqueles, que a tem como Vida. Felizes os convidados para esta ceia.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Minhas Margens de Alegria.


Nada melhor que presentear alguém, e nem precisa que seja sempre com, Iates, Bangalôs, Reinados ou Castelos... Falo das "margens da alegria" de Guimarães Rosa, que estão em detalhes pequeninos, que chamaria de "Pedaços de felicidade".Pensando nisso, deixo um carinho para quem passar por aqui. Coisinhas que estão guardadas em mim, como o filme a “Ostra e o Vento”, que tive a grande alegria de conhecer este ano.O filme merece todos os "bravos", principalmente pela bela composição poética que a fotografia e a trilha sonora dão a narrativa, em especial à interpretação de Leandra Leal. Vale a pena conferir.


A Ostra e o Vento é filme brasileiro de 1997 dirigido por Walter Lima Jr. com roteiro adaptado por ele mesmo e Flávio Tambellini, baseado no livro de Moacir C. Lopes.
A
direção de fotografia é de Pedro Farkas, a trilha sonora é de Wagner Tiso, e a canção-tema é de Chico Buarque e está no CD As cidades


Sinopse
Uma garota, Marcela, vive com o seu pai em uma
ilha distante do litoral. Ele é o responsável pela manutenção do farol da ilha e a sufoca com um amor possessivo e autoritário. Em função da grande solidão imposta aos dois pelo lugar, ela se revolta contra o pai e desenvolve uma paixão pelo vento que açoita a ilha e que acaba se tornando um dos personagens da história.

Elenco
Lima Duarte .... José
Leandra Leal .... Marcela
Fernando Torres .... Daniel
Castrinho .... Pepe
Floriano Peixoto .... Roberto
Márcio Vito .... Carrera
Débora Bloch .... mãe de Marcela

Principais prêmios e indicações
Festival de Cinema Brasileiro de Miami 1998 (EUA)
Venceu na categoria de Melhor Atriz (Leandra Leal).
Festival do Recife 1998 (Brasil)
Recebeu o Prêmio do Público.
Fernando Torres recebeu o Prêmio Especial do Júri.
Venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direção, Melhor Montagem e Melhor Filme.
Troféu APCA 1998 (Associação Paulista de Críticos de Arte, Brasil)
Venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Filme e Melhor Atriz Revelação (Leandra Leal).
Festival de Veneza 1997 (Itália)
Recebeu o prêmio CinemAvvenire.
Indicado ao
Leão de Ouro.
Festival International de Films de Fribourg 1998 (Suíça)
Recebeu o Troféu Don Quixote.

Curiosidades
É o filme de estréia da atriz
Leandra Leal, cujo desempenho, apesar dos treze anos que tinha na época, foi muito elogiado pela crítica.
As locações externas foram realizadas basicamente em dois locais: grande parte na
Ilha do Mel, local de exuberante beleza situado no litoral do estado do Paraná; e na praia de Jericoacoara, uma das praias mais bonitas do estado do Ceará. Na Ilha do Mel se destacam as cenas no Farol das Conchas, o farol branco que aparece na maior parte do filme (na verdade, no filme aparecem dois faróis distintos, o branco e um listrado, que só é mostrado ao final, ao longe); e as cenas da gruta de pedra, que é a Gruta das Encantadas. Em Jericoacoara destacam-se as cenas da Pedra Furada, uma formação rochosa na praia, próxima ao mar, que aparece em alguns momentos do filme.
Este foi o primeiro filme brasileiro a ter sua
trilha sonora totalmente masterizada em formato dolby digital.


Fonte:Wikipédia


domingo, 26 de abril de 2009

E por falar em Clarice...Onde anda Pessoa?


Quando me sentei para escrever este texto, o texto não era este, e nem era esta minha intenção. Era sobre Clarice Lispector que falaria, mas de repente “não mais que de repente” me vejo rascunhando sobre Pessoa, de modo que não pude deixá-lo, já que "ele mesmo" chamava-me. Ando ultimamente enredada por sua obra por uma causa diferente da que costumo enredar-me. Em seis anos de profissão, pela primeira vez revisito Pessoa como objeto de estudo. O amor ao ofício que me escolheu, empurrou-me para esse abismo, impedindo-me de dizer – Não – a esta missão. Temo tocar em sua obra, porque para mim, ela reside em uma dimensão onde a linguagem não alcança. Uma espécie de "entre lugar", como os escaninhos da alma, da poesia, ou da escuridão do retorno de Orfeu. Entrar em seu universo é, com certeza, adentrar num labirinto sem o Fio de Ariadne, pois sua poesia é um enigma, cabe a nós decifrá-la e, às vezes, perdemo-nos e não encontramos respostas para as inúmeras perguntas, o que não poderia ser diferente, já que nem o próprio poeta obteve respostas para suas interrogações. Tentar compreender a obra de Fernando Pessoa é deparar-se com inúmeras indagações, porém saber as respostas – eis o mistério – deste que diz ser sua poesia um “drama em gente” que se escondeu por trás de máscaras, “persona,” na tentativa de encontrar-se numa busca que não lhe dá respostas, por mais que se multiplique, fragmente-se, jamais encontrará a totalidade que anseia “Quem sou que assim caminhei sem eu/ Quem são que assim me deram aos bocados / A reunião em que acordo e não sou meu?” Em todas as tentativas, afinal, com que se depara é o vazio que vai se mostrar em variadas metáforas. Fernando Pessoa navegou por muitos rios, “além do Tejo”, sua obra comporta, além de poemas e prosa, uma infinidade de textos: cartas e ensaios críticos sobre variados temas. Esses textos são marcados por uma carga intelectual que os ombros de Pessoa suportaram, e uma ironia inteligente, própria de sua personalidade criativa e narcisista. Dentre os vários temas discutidos pelo poeta, escolhi um que talvez belisque as mentes mais acomodadas, acostumadas a ter, como seus, conceitos ainda tão distantes de nós, como a “Verdade”. As mentes que se pensam inquietas, talvez se sintam acolhidas no “desassossego” pessoano. Se é que em Fernando Pessoa, pode haver alguma espécie de acolhimento. Sujeito inquieto, perdido na linguagem "o menino da sua mãe", assim o vejo. Com o Deus "humano e menino" de seu mestre, aprendi a olhar para as coisas, e como ele espantar-me com “a eterna novidade do mundo”, e assim, sigo enganosamente feliz, crendo naquilo que nem o próprio foi capaz de crer. Deleitem-se com o discurso belicoso sobre a “Verdade”, que este homem inquietante nos deixou. Poderia dizer de minhas sensações sobre a "Verdade", porém paradiando o próprio poeta, concluo:"Sentir?Sinta quem lê!" .Segue o texto de Pessoa.

«AVerdade é para mim igual a Incerteza e não-ser — não existe e não é verdade, portanto.»

"Toda a metafísica é a procura da verdade, entendendo por Verdade, a verdade absoluta. Ora a Verdade, seja ela o que for, e admitindo que seja qualquer coisa, se existe existe ou dentro das minhas sensações, ou fora delas ou tanto dentro como fora delas. Se existe fora das minhas sensações, é uma coisa de que eu nunca posso estar certo, não existe para mim portanto, é, para mim, não só o contrário da certeza, porque só das minhas sensações estou certo, mas o contrário de ser porque a única coisa que existe para mim são as minhas sensações. De modo que, a existir fora das minhas sensações, a Verdade é para mim igual a Incerteza e não-ser — não existe e não é verdade, portanto. Mas concedamos o absurdo que de que as minhas sensações possam ser o erro, e o não-ser (o que é absurdo, visto que elas, com certeza, existem) — nesse caso a verdade é o ser e existe fora das minhas sensações totalmente . Mas a ideia Verdade é uma ideia minha; existe, por isso dentro das minhas sensações: portanto, ou quero Verdade Absoluta e fora de mim, ou verdade existente dentro de mim — contradição, portanto, erro, consequentemente.
A outra hipótese é que verdade existe dentro das minhas sensações. Nesse caso ou é a soma delas todas, ou é uma delas, ou parte delas. Se é uma delas, em que se distingue das outras? Se é uma sensação, não se distingue essencialmente das outras; e para que se distinguisse, era preciso que se distinguisse, essencialmente. E se não é uma sensação, não é uma sensação. — Se é parte das minhas sensações, que parte? As sensações têm duas faces — a de serem sentidas e a de serem dadas como coisas sentidas, a parte pela qual são minhas e a parte pela qual são de «coisas». É uma destas partes, que a Verdade, a ser parte das minhas sensações, tem de ser. (Se é de qualquer modo um grupo de sensações unificando-se ao constituir uma só sensação, cai sob a garra do raciocínio que conduz à hipótese anterior). Se é uma das duas faces — qual? A face «subjectiva»? Ora essa face subjectiva aparece-me sob uma das duas formas — ou a da minha «individualidade» una ou de uma múltipla individualidade «minha». No primeiro caso é uma sensação minha como qualquer outra e já fica refutada no argumento anterior. No segundo caso, essa verdade é múltipla e diversa, é verdades — o que é contraditório com a ideia de Verdade, valha ela o que valer. Será então a face objectiva? O mesmo argumento se aplica, porque ou é uma unificação dessas sensações numa ideia de um mundo exterior — e essa ideia ou não é nada ou é uma sensação minha, e se é uma sensação, já fica refutada essa hipótese; ou é de um múltiplo mundo exterior, e isso reduz-se às minhas sensações, então pluralidade de modos é a essência da ideia de Verdade.
Resta analisar se a Verdade é o misto das minhas sensações. Essas sensações ou são tomadas como um ou como muitos. No primeiro caso voltamos à já rejeitada hipótese. No segundo caso a Verdade como ideia desaparece, porque se consubstancia com a totalidade das minhas sensações. Mas para ser a totalidade das minhas sensações, mesmo concebidas como minhas sensações, nuamente, a verdade fica dispersa — desaparece. Porque, ou se baseia na ideia de totalidade, que é uma ideia (ou sensação) nossa, ou não se apoia em parte nenhuma. Mas nada prova, mesmo, a identidade de verdade e totalidade. Portanto, a verdade não existe.
Mas nós temos a ideia ...
Temos, mas vemos que não corresponde a «Realidade» nenhuma, suposto que Realidade significa qualquer coisa. A Verdade é, portanto, uma ideia ou sensação nossa, não sabemos de quê, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra sensação nossa.
Ficamos portanto com as nossas sensações por única «realidade», inútil que realmente tem aqui certo valor, mas é uma conveniência para frasear. De «real» temos apenas as nossas sensações, mas «real» (que é uma sensação nossa) não significa nada, nem mesmo «significa» significar qualquer coisa, nem sensação tem um sentido, nem «tem um sentido» é coisa que tenha sentido algum. Tudo é o mesmo mistério. Reparo, porém em que nem tudo pode significar coisa alguma, um «mistério» é palavra que não tem significação. "
s.d.
(Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968. - 218.).

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