quinta-feira, 30 de abril de 2009

Minhas Margens de Alegria.


Nada melhor que presentear alguém, e nem precisa que seja sempre com, Iates, Bangalôs, Reinados ou Castelos... Falo das "margens da alegria" de Guimarães Rosa, que estão em detalhes pequeninos, que chamaria de "Pedaços de felicidade".Pensando nisso, deixo um carinho para quem passar por aqui. Coisinhas que estão guardadas em mim, como o filme a “Ostra e o Vento”, que tive a grande alegria de conhecer este ano.O filme merece todos os "bravos", principalmente pela bela composição poética que a fotografia e a trilha sonora dão a narrativa, em especial à interpretação de Leandra Leal. Vale a pena conferir.


A Ostra e o Vento é filme brasileiro de 1997 dirigido por Walter Lima Jr. com roteiro adaptado por ele mesmo e Flávio Tambellini, baseado no livro de Moacir C. Lopes.
A
direção de fotografia é de Pedro Farkas, a trilha sonora é de Wagner Tiso, e a canção-tema é de Chico Buarque e está no CD As cidades


Sinopse
Uma garota, Marcela, vive com o seu pai em uma
ilha distante do litoral. Ele é o responsável pela manutenção do farol da ilha e a sufoca com um amor possessivo e autoritário. Em função da grande solidão imposta aos dois pelo lugar, ela se revolta contra o pai e desenvolve uma paixão pelo vento que açoita a ilha e que acaba se tornando um dos personagens da história.

Elenco
Lima Duarte .... José
Leandra Leal .... Marcela
Fernando Torres .... Daniel
Castrinho .... Pepe
Floriano Peixoto .... Roberto
Márcio Vito .... Carrera
Débora Bloch .... mãe de Marcela

Principais prêmios e indicações
Festival de Cinema Brasileiro de Miami 1998 (EUA)
Venceu na categoria de Melhor Atriz (Leandra Leal).
Festival do Recife 1998 (Brasil)
Recebeu o Prêmio do Público.
Fernando Torres recebeu o Prêmio Especial do Júri.
Venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direção, Melhor Montagem e Melhor Filme.
Troféu APCA 1998 (Associação Paulista de Críticos de Arte, Brasil)
Venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Filme e Melhor Atriz Revelação (Leandra Leal).
Festival de Veneza 1997 (Itália)
Recebeu o prêmio CinemAvvenire.
Indicado ao
Leão de Ouro.
Festival International de Films de Fribourg 1998 (Suíça)
Recebeu o Troféu Don Quixote.

Curiosidades
É o filme de estréia da atriz
Leandra Leal, cujo desempenho, apesar dos treze anos que tinha na época, foi muito elogiado pela crítica.
As locações externas foram realizadas basicamente em dois locais: grande parte na
Ilha do Mel, local de exuberante beleza situado no litoral do estado do Paraná; e na praia de Jericoacoara, uma das praias mais bonitas do estado do Ceará. Na Ilha do Mel se destacam as cenas no Farol das Conchas, o farol branco que aparece na maior parte do filme (na verdade, no filme aparecem dois faróis distintos, o branco e um listrado, que só é mostrado ao final, ao longe); e as cenas da gruta de pedra, que é a Gruta das Encantadas. Em Jericoacoara destacam-se as cenas da Pedra Furada, uma formação rochosa na praia, próxima ao mar, que aparece em alguns momentos do filme.
Este foi o primeiro filme brasileiro a ter sua
trilha sonora totalmente masterizada em formato dolby digital.


Fonte:Wikipédia


domingo, 26 de abril de 2009

E por falar em Clarice...Onde anda Pessoa?


Quando me sentei para escrever este texto, o texto não era este, e nem era esta minha intenção. Era sobre Clarice Lispector que falaria, mas de repente “não mais que de repente” me vejo rascunhando sobre Pessoa, de modo que não pude deixá-lo, já que "ele mesmo" chamava-me. Ando ultimamente enredada por sua obra por uma causa diferente da que costumo enredar-me. Em seis anos de profissão, pela primeira vez revisito Pessoa como objeto de estudo. O amor ao ofício que me escolheu, empurrou-me para esse abismo, impedindo-me de dizer – Não – a esta missão. Temo tocar em sua obra, porque para mim, ela reside em uma dimensão onde a linguagem não alcança. Uma espécie de "entre lugar", como os escaninhos da alma, da poesia, ou da escuridão do retorno de Orfeu. Entrar em seu universo é, com certeza, adentrar num labirinto sem o Fio de Ariadne, pois sua poesia é um enigma, cabe a nós decifrá-la e, às vezes, perdemo-nos e não encontramos respostas para as inúmeras perguntas, o que não poderia ser diferente, já que nem o próprio poeta obteve respostas para suas interrogações. Tentar compreender a obra de Fernando Pessoa é deparar-se com inúmeras indagações, porém saber as respostas – eis o mistério – deste que diz ser sua poesia um “drama em gente” que se escondeu por trás de máscaras, “persona,” na tentativa de encontrar-se numa busca que não lhe dá respostas, por mais que se multiplique, fragmente-se, jamais encontrará a totalidade que anseia “Quem sou que assim caminhei sem eu/ Quem são que assim me deram aos bocados / A reunião em que acordo e não sou meu?” Em todas as tentativas, afinal, com que se depara é o vazio que vai se mostrar em variadas metáforas. Fernando Pessoa navegou por muitos rios, “além do Tejo”, sua obra comporta, além de poemas e prosa, uma infinidade de textos: cartas e ensaios críticos sobre variados temas. Esses textos são marcados por uma carga intelectual que os ombros de Pessoa suportaram, e uma ironia inteligente, própria de sua personalidade criativa e narcisista. Dentre os vários temas discutidos pelo poeta, escolhi um que talvez belisque as mentes mais acomodadas, acostumadas a ter, como seus, conceitos ainda tão distantes de nós, como a “Verdade”. As mentes que se pensam inquietas, talvez se sintam acolhidas no “desassossego” pessoano. Se é que em Fernando Pessoa, pode haver alguma espécie de acolhimento. Sujeito inquieto, perdido na linguagem "o menino da sua mãe", assim o vejo. Com o Deus "humano e menino" de seu mestre, aprendi a olhar para as coisas, e como ele espantar-me com “a eterna novidade do mundo”, e assim, sigo enganosamente feliz, crendo naquilo que nem o próprio foi capaz de crer. Deleitem-se com o discurso belicoso sobre a “Verdade”, que este homem inquietante nos deixou. Poderia dizer de minhas sensações sobre a "Verdade", porém paradiando o próprio poeta, concluo:"Sentir?Sinta quem lê!" .Segue o texto de Pessoa.

«AVerdade é para mim igual a Incerteza e não-ser — não existe e não é verdade, portanto.»

"Toda a metafísica é a procura da verdade, entendendo por Verdade, a verdade absoluta. Ora a Verdade, seja ela o que for, e admitindo que seja qualquer coisa, se existe existe ou dentro das minhas sensações, ou fora delas ou tanto dentro como fora delas. Se existe fora das minhas sensações, é uma coisa de que eu nunca posso estar certo, não existe para mim portanto, é, para mim, não só o contrário da certeza, porque só das minhas sensações estou certo, mas o contrário de ser porque a única coisa que existe para mim são as minhas sensações. De modo que, a existir fora das minhas sensações, a Verdade é para mim igual a Incerteza e não-ser — não existe e não é verdade, portanto. Mas concedamos o absurdo que de que as minhas sensações possam ser o erro, e o não-ser (o que é absurdo, visto que elas, com certeza, existem) — nesse caso a verdade é o ser e existe fora das minhas sensações totalmente . Mas a ideia Verdade é uma ideia minha; existe, por isso dentro das minhas sensações: portanto, ou quero Verdade Absoluta e fora de mim, ou verdade existente dentro de mim — contradição, portanto, erro, consequentemente.
A outra hipótese é que verdade existe dentro das minhas sensações. Nesse caso ou é a soma delas todas, ou é uma delas, ou parte delas. Se é uma delas, em que se distingue das outras? Se é uma sensação, não se distingue essencialmente das outras; e para que se distinguisse, era preciso que se distinguisse, essencialmente. E se não é uma sensação, não é uma sensação. — Se é parte das minhas sensações, que parte? As sensações têm duas faces — a de serem sentidas e a de serem dadas como coisas sentidas, a parte pela qual são minhas e a parte pela qual são de «coisas». É uma destas partes, que a Verdade, a ser parte das minhas sensações, tem de ser. (Se é de qualquer modo um grupo de sensações unificando-se ao constituir uma só sensação, cai sob a garra do raciocínio que conduz à hipótese anterior). Se é uma das duas faces — qual? A face «subjectiva»? Ora essa face subjectiva aparece-me sob uma das duas formas — ou a da minha «individualidade» una ou de uma múltipla individualidade «minha». No primeiro caso é uma sensação minha como qualquer outra e já fica refutada no argumento anterior. No segundo caso, essa verdade é múltipla e diversa, é verdades — o que é contraditório com a ideia de Verdade, valha ela o que valer. Será então a face objectiva? O mesmo argumento se aplica, porque ou é uma unificação dessas sensações numa ideia de um mundo exterior — e essa ideia ou não é nada ou é uma sensação minha, e se é uma sensação, já fica refutada essa hipótese; ou é de um múltiplo mundo exterior, e isso reduz-se às minhas sensações, então pluralidade de modos é a essência da ideia de Verdade.
Resta analisar se a Verdade é o misto das minhas sensações. Essas sensações ou são tomadas como um ou como muitos. No primeiro caso voltamos à já rejeitada hipótese. No segundo caso a Verdade como ideia desaparece, porque se consubstancia com a totalidade das minhas sensações. Mas para ser a totalidade das minhas sensações, mesmo concebidas como minhas sensações, nuamente, a verdade fica dispersa — desaparece. Porque, ou se baseia na ideia de totalidade, que é uma ideia (ou sensação) nossa, ou não se apoia em parte nenhuma. Mas nada prova, mesmo, a identidade de verdade e totalidade. Portanto, a verdade não existe.
Mas nós temos a ideia ...
Temos, mas vemos que não corresponde a «Realidade» nenhuma, suposto que Realidade significa qualquer coisa. A Verdade é, portanto, uma ideia ou sensação nossa, não sabemos de quê, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra sensação nossa.
Ficamos portanto com as nossas sensações por única «realidade», inútil que realmente tem aqui certo valor, mas é uma conveniência para frasear. De «real» temos apenas as nossas sensações, mas «real» (que é uma sensação nossa) não significa nada, nem mesmo «significa» significar qualquer coisa, nem sensação tem um sentido, nem «tem um sentido» é coisa que tenha sentido algum. Tudo é o mesmo mistério. Reparo, porém em que nem tudo pode significar coisa alguma, um «mistério» é palavra que não tem significação. "
s.d.
(Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968. - 218.).

sábado, 25 de abril de 2009

A paixão segundo H.H

Este poemacanção, é parte do poema "Ode descontínua e remota para flauta e oboé", da poeta paulista Hilda Hilst, publicado no livro "Júbilo, memória, noviciado da paixão" em 1974. Confesso que conheço pouco de sua obra, li algumas poesias há um tempo atrás, mas nada muito profundo. Este ano fui apresentada a sua poesia por Zeca Baleiro - diante disso - fizemos as pazes. Ele musicou os poemas, e chamou grandes vozes femininas para interpretá-los, entre essas vozes, Angela Rô Rô agracia-nos com sua bela e emocionante interpretação da "Canção V", transcrita abaixo, porém o cd todo é digno de ser dionisicamente bebido.



Quando Beatriz e Caiana te perguntarem, Dionísio,
se me amas, podes dizer que não.
Pouco me importa
ser nada à tua volta,
sombra, coisa esgarçada
no entendimento de tua mãe e irmã.
A mim me importa, Dionísio, o que dizes deitado ao meu ouvido
e o que tu dizes nem pode ser cantado
porque é palavra de luta e despudor.
E no meu verso se faria injúria
E no meu quarto se faz verbo de amor.

sábado, 18 de abril de 2009

"Navegar é preciso"

Nunca esqueço da tarde em que visitei a exposição de Rodin e Camille Claudel, foi uma tarde de águas grandes, a história daquela mulher me marcou profundamente. Tive medo do que o Amor poderia causar na vida de alguém. Não poderia iniciar este espaço refletindo sobre outro tema, que não fosse o “Amor”, porém falo daquele “que conhece o que é verdade”, e não de sentimentos baseados em equívocos. Demorei um pouco a crer na bonita filosofia bruniana sobre o Amor, talvez por teimosia ou “encastelamento”, para usar seu termo. Sinto-me com se voltasse de uma grande viagem, aquela já feita por Max, Pessoa e tantos outros. Naveguei sem medo, já que o mar me era um estranho conhecido, e assim me permiti lançar as redes, sabendo a todo instante que talvez não encontrasse peixes, nem pérolas. Mas essa, era minha “Travessia”, ninguém poderia fazê-la, senão eu mesma. E assim segui, em meu barco ébrio. Sou outra depois desta viagem, como nunca ousei ser, e como Max, trouxe “astros e asas”. Todo começo necessita de coragem. Coragem de abandonar. É preciso viver, e deixar morrer o que faz mal a nós, e aos outros. Creio, no verdadeiro Amor, já que sem ele, nós nada seriamos. É com esse sentimento que inauguro este espaço. No mais é "Deixa Deixa". Beijos com muito Amor para todos.

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