sábado, 14 de agosto de 2010

Para Gabriel: "A falta que ama"

Este é um texto que eu não gostaria de escrever, mas apesar de não querer, não poderia deixar de falar da passagem dessa pessoinha em minha vida. Ah, não tem adjetivos pra descrever a importância de meu amor Biel para mim, para minha vida e para toda a família Castro. Muitos não conseguem alcançar a dimensão desse amor e não compreenderão esse desabafo, essa confissão. Porém, os que me conhecem sabem que o meu Biel, não foi simplesmente um gato - Foi o meu gato Biel. A pessoinha mais linda do meu mundo, mais importante do meu mundo (desculpem amigos e parentes) os amo, mas eu posso lhes dizer do gatinho que tive - ele foi a pessoa mais importante que tive em minha vida -Esteve sempre junto de mim, foi meu fiel escudeiro, meu Sancho Pança, meu caroço de tucumã, meu soldadinho de chumbo, meu olho de mar azul, meu baobá, a calda de chocolate quente que derretia o coração da gente, meu gatinho memês. A família toda sente sua partida, e eu sofro o triplo dessa dor, porém não podia mais prendê-lo aqui com as missões que determinei a ele, e que ele tentou cumprir. Cuidamos um do outro o tempo todo, mas eis que o meu Deus, aquele que ama os gatinhos de rua e Fernando Pessoa o chamou para o céu dos gatinhos.Quando o vi dodói, me olhando com uma carinha de quem não queria ir embora, lembrei da personagem Baleia de Graciliano e imaginei que ele me olhava e ficava se imaginando em outro mundo, um mundo onde ele iria encontrar a mãe, a Felícia, onde teria um lindo quintal em que ele pudesse correr, comer capim, e onde ele acordaria feliz, lambendo a mão de uma Sali e um Nilson enorme, e continuariamos a ser felizes como fomos sempre.Estou vazia, vazia de Biel, com uma tristeza enorme dentro de mim. Estou reaprendendo um pouquinho cada dia a ser sem ele, a ir ao supermercado e não comprar latinha e areinha,  a não levantar o lixo antes de deitar, a não deixar portas abertas para não bater e machucá-lo, a não levantar escondida no meio da noite pra não acordá-lo, mas o pior de tudo, é reapreender a não ser acordada com seu miau, ou com sua tolice de fingir que queria vomitar, só pra eu levantar e atendê-lo.Não cantar a musiquinha do bom dia, chegar em casa e não ser recebida por seu carinho. A tal "falta que ama" drummondiana, a ausência que maltrata aqueles que ficam. Meu gatinho foi muito amado por todos nós, por isso viveu muito. Eis o antídoto da longevidade, o Amor, o verdadeiro Amor.


Se alguém pudesse ser um siboney
Boiando à flor do sol
Se alguém, seu arquipélago, seu rei
Seu golfo e seu farol
Captasse a cor das cores da razão do sal da vida
Talvez chegasse a ler o que este amor tem como lei
Se alguém, judeu, iorubá, nissei, bundo,
Rei na diáspora
Abrisse as suas asas sobre o mundo
Sem ter nem precisar
E o mundo abrisse já, por sua vez,
Asas e pétalas
Não é bem, talvez, em flor
Que se desvela o que este Amor
Se alguém, cantasse mais do que ninguém
Do que o silêncio e o grito
Mais íntimo e remoto, perto além
Mais feio e mais bonito
Se alguém pudesse erguer o seu Gilgal em Bethania...
Que anjo exterminador tem como guia o deste Amor?
Se alguém, nalgum bolero, nalgum som
Perdesse a máscara
E achasse verdadeiro e muito bom
O que não passará
Dindinha lua brilharia mais no céu da ilha
E a luz da maravilha
E a luz do amor
Sobre este amor.


         


[Este texto foi escrito no dia 06, mas só hoje tive vontade de postá-lo, a saudade ainda é enorme, a falta que ele faz em minha casa, em minha vida, não se explica, sente-se. E como dói. Agradeço aos que deram amor a ele, e aos que se sensiblizaram com sua partida.]

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