segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

" O Meu olhar é nítido como um girassol"

Meu primeiro escrito do ano recorre a receita de ano novo de Drummond e a experiência do olhar por Fernando Pessoa. Drummond diz que para ganharmos um ano novo, digno de receber tal nome, é preciso merecê-lo. E acrescenta que não adianta fazer lista de boas intenções, segundo o poeta, só há um lugar onde o ano novo cochila: dentro de nós mesmos.É uma linda receita, vale a pena segui-la. Sempre digo que tenho dois momentos de ano novo: janeiro e março. Nasci em janeiro, adoro meu mês, mas sempre volto a nascer em março.É um mês especial para mim, por suas águas, elas sempre me trazem boas novas. 2009 foi difícil, porém importante. Encontrei aquele que veio ser o meu Consolador -Jesus- e  o que era cinza se foi e voltei a viver. Hoje quero falar do que espero deste ano que para mim está começando, é nele que meus desejos esperam ser acordados Espero fazer com que ele mereça ser chamado Novo realmente. Como não poderia deixar de ser, escolhi Fernando Pessoa como lema para meu ano novo. A escolha é dupla: primeiro deve-se ao meu amor por ele, e segundo por festejar meu feliz encontro acadêmico com sua poesia. Este poema é de Alberto Caeiro, foi escrito em março de 1914 no "dia triunfal", quando Fernando Pessoa numa espécie de extase deu vida aos heterônimos considerados perfeitos, o poeta  fala da experiência do "olhar". O olhar antecipa o ver. Quem não olha, não consegue ter o pasmo essencial de que fala Caeiro. É o que mais me chama a atenção neste poema, esse Olhar as coisas como se fosse a primeira vez. Saber dar por isso, eis a mágica da poesia. Andei pensando em desejos, sonhos, metas e objetivos para 2010. Um deles já está fadado, os outros estou em busca. Quero muito que minha experiência com àquelas pessoas seja melhor, quero poder me doar mais, sei que posso. Bem, Pasárgada já não é mais sonho, isso não quer dizer que deixei de amá-la. Isso não, aquelas águas serão sempre minhas e guardarão grandes momentos, regados a vinho, poesia e papos existencias. E não descarto a possibilidade de ter meu último andar por lá. Ele é quem sabe. E minha Sofia? Bem este sonho continua guardadinho com cheiro de coisa nova, esperando o momento certo de vir a ser. Estou feliz, sinto-me num grande momento , de crescimento. Acho que percebemos que crescemos quando aprendemos a lidar com as perdas, e extrair delas o bem. Hoje eu sou assim, desde aquela morte necessária, e como diz minha grande amiga "é preciso morrer para nascer/ sobrevida, não é vida", ensinamentos do S.S.A.P.S. Desejo a todos que passarem por aqui, um lindo ano e merecidamente novo, que a poesia  encha de cor nossas vidas. Que possamos estar sempre acordados para o novo. Que saibamos abandonar o que não causa o bem, para nós e para o outros. Vivamos tudo em cada vão momento, e com Ricardo Reis "aprendemos que a vida passa (...) e enlacemos as mãos". Carpe Diem para todos. Feliz Ano Novo!!!Beijos no coração. Fernando Pessoa para vocês.


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
(Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914)

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